A Criança e o Brincar

Ao crescer, as pessoas param de brincar, e parecem renunciar ao prazer que obtinham de brincar. Contudo, quem compreende a mente humana, sabe que nada é tão difícil para o homem em abdicar (abrir mão) de um prazer que já experimentou, ou seja, que já vivenciou anteriormente.

Na realidade, nunca renunciamos a nada, apenas trocamos uma coisa por outra. O que parece ser uma renúncia, é na verdade, a formação de um substituto.

Reflexos na vida adulta

Da mesma forma, a criança em desenvolvimento, quando para de brincar, só abdica do elo com os objetos reais; em vez de “brincar”, ela agora “fantasia”, constrói “castelos no ar” e cria o que chamamos de “devaneios”. O adulto pode refletir sobre a intensa seriedade com que realizava seus jogos na infância e, organizando suas ocupações do presente, aparentemente tão sérias, aos seus jogos de criança, pode livrar-se da pesada carga imposta pela vida e conquistar o intenso prazer proporcionado pelo humor.

Pode-se perceber que a criança ao brincar, está utilizando suas fantasias e imaginação, o que a leva a pensar que está no domínio de suas brincadeiras, o que realmente está. Ao brincar, a criança tem a possibilidade de ir percebendo o funcionamento das coisas que a rodeiam e de, lentamente, ir entrando no mundo dos adultos e nas regras que o regem.

Um mundo de descobertas

Assim, observando e brincando com as crianças, temos a possibilidade de nos apercebermos do significado que o mundo tem para elas, da forma como o encaram e constroem, e, podemos mesmo afirmar que para conhecermos verdadeiramente uma criança temos conhecer e perceber a maneira como ela brinca.

As brincadeiras das crianças vão mudando à medida que elas crescem e se desenvolvem. Primeiro, a criança brinca com o seu próprio corpo, observa e brinca com as mãos, leva o pé à boca e agita-se, posteriormente descobre os objetos e as suas potencialidades, segura nos brinquedos na mão, leva-os à boca, agita-os e atira-os ao chão, a seguir há uma combinação dos objetos num jogo relacional e rapidamente chegamos ao “faz-de-conta”.

Um efeito apaziguador

É ainda por meio do jogo que a criança aprende a defender-se do que a angustia ou assusta, experimenta afetos, soluciona problemas. A brincadeira é a forma mais fácil e acessível que a criança tem de entrar e sair da realidade as vezes que quiser.

Certamente, todos nós temos o nosso imaginário de infância povoado de brinquedos e brincadeiras que tiveram um efeito apaziguador em momentos angustiantes, em que nos sentimos mais inseguros, perdidos ou desamparados.

Os jogos “violentos” com grande envolvimento físico, como atirar-se ao chão ou o experimentar a força com os amigos, e, mais tarde, os jogos de regras passam, também, a fazer parte integrante das brincadeiras das crianças.

A partir dos 7/8 anos as crianças são capazes de criar as suas próprias regras para os jogos, de forma a que cada um tenha bem definido o seu papel. Este tipo de jogos dá à criança a possibilidade de aprender a ganhar e a perder, a regular as suas emoções e a lidar adequadamente com algumas frustrações.

A criança tem nestes jogos a possibilidades para aprender competências que lhe permitam estabelecer relações de harmonia com os outros.

Devemos estimular a imaginação

Por tudo isto, a brincadeira e os jogos não podem ser encarados como uma forma de passar o tempo, mas sim como algo de muito sério que permite à criança um bom crescimento físico, intelectual, emocional e social. O adulto pode (e deve) estimular a imaginação das crianças, despertando ideias, questionando-as de forma a que elas próprias procurem soluções para os problemas que surjam.

Além disso, brincar com elas, procurando estimular as crianças e servir de modelo, ajuda-as a crescer. O brincar com alguém reforça os laços afetivos. Um adulto, ao brincar com uma criança, faz também uma demonstração do seu amor. A participação do adulto na brincadeira eleva o nível de interesse, enriquece e estimula a imaginação das crianças.

É através da atividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a cultura do meio em que vive, integrando-se nele, adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a competir, cooperar com os seus semelhantes e a conviver como um ser social.